terça-feira, 30 de novembro de 2010

Flores - Conto

Pessoal, vou postar algo um pouco diferente do habitual. Este é um "conto" que escrevi a bem pouco tempo atrás (3 semanas no máximo). Não é o primeiro, mas será o primeiro que postarei e, quem sabe, postarei mais nas próximas vezes.
Digam-me o que acham!!!


Flores (Ricardo José)

Era mais um dia normal, toda a simplicidade do cotidiano coexistia. Ainda sentado no sofá, com um livro semi-aberto nas mãos, o rádio tocava algo quase imperceptível. Tudo que ouvia era o balançar das árvores do lado de fora e o uivo do vento. Seus olhos cerrados, não dormia, mas não estava consciente. Sua cabeça pendeu para o lado, acordou de súbito, de repente a música parecia alta demais. Passou as mãos no rosto e esfregou a cabeça. Dez minutos daquele jeito, parecera um ano. Quantas recordações lhe vieram, quantos planos ... Fechou as janelas, e com elas as ilusões.

O frio percorreu-lhe o corpo, e com ele a solidão. Mas que droga, ele falou bem alto. Não queria pensar naquilo, naquela tristeza. Estava cansado de sentir-se assim, mas não sabia como fugir daquilo. Passava o dia assim, aonde quer que estivesse, o mais simples pensamento lhe remetia a ela.

Acontecera de novo, estava paralisado olhando pela janela, vendo a estranha dança das borboletas, confundia-as com as cores das rosas. Rosas ... Por que quando nos apaixonamos tudo parece interligado? Quanto mais tentava esquecer mais lembrava.

Tentou odiá-la, mas foi o inverso. Desistiu, deixou este trabalho para o tempo. Mas por que demorava tanto? Pensou em perdoá-la, mas não dava, isto era impossível, ela brincara com ele, ferira-o de tal forma e com tanto empenho que era digna de um prêmio. Devia haver um para gente como ela ...

Olhou para a cama e se viu deitado ao lado dela. Mas também viu o outro, viu os dois rindo dele. Há uma semana que não se deitava naquela cama.

Sentiu raiva. Quis ligar para ela, xingá-la, humilhá-la, mas claro, não o fez. Jamais conseguiria, não era o seu modo de agir.

Na fatídica tarde em que tudo começara ele também se sentiu assim, impotente, queria quebrar tudo, mas manteve uma calma glacial, inexistente. Falou tudo que sentia. Queria ter perdido a razão, queria não ser assim.

Não sabia quanto tempo mais iria reviver aquilo tudo. Mas apesar das dores, sorria inúmeras vezes ao se lembrar dela e deles dois juntos.

Acho que a vida é assim, ele pensava, momentos bons e ruins. Só precisamos aprender a encará-los na hora certa.

Riu. Quantos livros lhe diriam aquilo? Biscoitos da sorte diziam o mesmo.

Sentou-se novamente no sofá. Olhou placidamente o movimento ininterrupto do ventilador. Acendeu um cigarro e viu a fumaça subir tímida, dispersante.

O som do rádio voltou a sumir, como a fumaça. Os últimos raios de sol incidiam e formavam cores infindas nas lágrimas que escorriam de seus olhos. Não chorava por vontade, era um grito de sua alma, um transbordar do pranto. O renovar da esperança.

O mar parecia perto e o horizonte era palpável, sentiu o amargo beijo da saudade vir com o vento gélido. Viu o sol se pôr e seus olhos fecharem, seu peito tinha o ritmo das marés. Não pensava mais nela, mas via as paredes de seu castelo interno desmoronarem com o mar.

Entendeu ao ver a dança da natureza, todo fim é o início de um ciclo eterno. Como borboletas dançamos, voamos e buscamos em cada flor nossa desenvoltura e o completar de nosso âmago. Em cada flor morremos e ressuscitamos. Em cada flor, em cada amor, vivemos.

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Mais Rio

Vou postar aqui um trexo de um post do blog do Luiz Eduardo Soares que um professor passou.
Muitos devem conhecê-lo. Vamos ao que importa:

Quem quiser lê-la toda, este é o link do blog dele: http://luizeduardosoares.blogspot.com/2010/11/crise-no-rio-e-o-pastiche-midiatico.html

"(...).
Serei, por assim dizer, curto e grosso, aproveitando-me do expediente discursivo aqui adotado, em que sou eu mesmo o formulador das questões a desconstruir. Eis as respostas, na sequência das perguntas, que repito para facilitar a leitura:
(a) O que fazer, já, imediatamente, para sustar a violência e resolver o desafio da insegurança?
Nada que se possa fazer já, imediatamente, resolverá a insegurança. Quando se está na crise, usam-se os instrumentos disponíveis e os procedimentos conhecidos para conter os sintomas e salvar o paciente. Se desejamos, de fato, resolver algum problema grave, não é possível continuar a tratar o paciente apenas quando ele já está na UTI, tomado por uma enfermidade letal, apresentando um quadro agudo. Nessa hora, parte-se para medidas extremas, de desespero, mobilizando-se o canivete e o açougueiro, sem anestesia e assepsia. Nessa hora, o cardiologista abre o tórax do moribundo na maca, no corredor. Não há como construir um novo hospital, decente, eficiente, nem para formar especialistas, nem para prevenir epidemias, nem para adotar procedimentos que evitem o agravamento da patologia. Por isso, o primeiro passo para evitar que a situação se repita é trocar a pergunta. O foco capaz de ajudar a mudar a realidade é aquele apontado por outra pergunta: o que fazer para aperfeiçoar a segurança pública, no Rio e no Brasil, evitando a violência de todos os dias, assim como sua intensificação, expressa nas sucessivas crises?
Se o entrevistador imaginário interpelar o respondente, afirmando que a sociedade exige uma resposta imediata, precisa de uma ação emergencial e não aceita nenhuma abordagem que não produza efeitos práticos imediatos, a melhor resposta seria: caro amigo, sua atitude representa, exatamente, a postura que tem impedido avanços consistentes na segurança pública. Se a sociedade, a mídia e os governos continuarem se recusando a pensar e abordar o problema em profundidade e extensão, como um fenômeno multidimensional a requerer enfrentamento sistêmico, ou seja, se prosseguirmos nos recusando, enquanto Nação, a tratar do problema na perspectiva do médio e do longo prazos, nos condenaremos às crises, cada vez mais dramáticas, para as quais não há soluções mágicas.
A melhor resposta à emergência é começar a se movimentar na direção da reconstrução das condições geradoras da situação emergencial. Quanto ao imediato, não há espaço para nada senão o disponível, acessível, conhecido, que se aplica com maior ou menor destreza, reduzindo-se danos e prolongando-se a vida em risco.
A pergunta é obtusa e obscurantista, cúmplice da ignorância e da apatia.
(b) O que as polícias fluminenses deveriam fazer para vencer, definitivamente, o tráfico de drogas?
Em primeiro lugar, deveriam parar de traficar e de associar-se aos traficantes, nos “arregos” celebrados por suas bandas podres, à luz do dia, diante de todos. Deveriam parar de negociar armas com traficantes, o que as bandas podres fazem, sistematicamente. Deveriam também parar de reproduzir o pior do tráfico, dominando, sob a forma de máfias ou milícias, territórios e populações pela força das armas, visando rendimentos criminosos obtidos por meios cruéis.
Ou seja, a polaridade referida na pergunta (polícias versus tráfico) esconde o verdadeiro problema: não existe a polaridade. Construí-la –isto é, separar bandido e polícia; distinguir crime e polícia-- teria de ser a meta mais importante e urgente de qualquer política de segurança digna desse nome. Não há nenhuma modalidade importante de ação criminal no Rio de que segmentos policiais corruptos estejam ausentes. E só por isso que ainda existe tráfico armado, assim como as milícias.
Não digo isso para ofender os policiais ou as instituições. Não generalizo. Pelo contrário, sei que há dezenas de milhares de policiais honrados e honestos, que arriscam, estóica e heroicamente, suas vidas por salários indignos. Considero-os as primeiras vítimas da degradação institucional em curso, porque os envergonha, os humilha, os ameaça e acua o convívio inevitável com milhares de colegas corrompidos, envolvidos na criminalidade, sócios ou mesmo empreendedores do crime.
Não nos iludamos: o tráfico, no modelo que se firmou no Rio, é uma realidade em franco declínio e tende a se eclipsar, derrotado por sua irracionalidade econômica e sua incompatibilidade com as dinâmicas políticas e sociais predominantes, em nosso horizonte histórico. Incapaz, inclusive, de competir com as milícias, cuja competência está na disposição de não se prender, exclusivamente, a um único nicho de mercado, comercializando apenas drogas –mas as incluindo em sua carteira de negócios, quando conveniente. O modelo do tráfico armado, sustentado em domínio territorial, é atrasado, pesado, anti-econômico: custa muito caro manter um exército, recrutar neófitos, armá-los (nada disso é necessário às milícias, posto que seus membros são policiais), mantê-los unidos e disciplinados, enfrentando revezes de todo tipo e ataques por todos os lados, vendo-se forçados a dividir ganhos com a banda podre da polícia (que atua nas milícias) e, eventualmente, com os líderes e aliados da facção. É excessivamente custoso impor-se sobre um território e uma população, sobretudo na medida que os jovens mais vulneráveis ao recrutamento comecem a vislumbrar e encontrar alternativas. Não só o velho modelo é caro, como pode ser substituído com vantagens por outro muito mais rentável e menos arriscado, adotado nos países democráticos mais avançados: a venda por delivery ou em dinâmica varejista nômade, clandestina, discreta, desarmada e pacífica. Em outras palavras, é melhor, mais fácil e lucrativo praticar o negócio das drogas ilícitas como se fosse contrabando ou pirataria do que fazer a guerra. Convenhamos, também é muito menos danoso para a sociedade, por óbvio.
(c) O Exército deveria participar?
Fazendo o trabalho policial, não, pois não existe para isso, não é treinado para isso, nem está equipado para isso. Mas deve, sim, participar. A começar cumprindo sua função de controlar os fluxos das armas no país. Isso resolveria o maior dos problemas: as armas ilegais passando, tranquilamente, de mão em mão, com as benções, a mediação e o estímulo da banda podre das polícias.
E não só o Exército. Também a Marinha, formando uma Guarda Costeira com foco no controle de armas transportadas como cargas clandestinas ou despejadas na baía e nos portos. Assim como a Aeronáutica, identificando e destruindo pistas de pouso clandestinas, controlando o espaço aéreo e apoiando a PF na fiscalização das cargas nos aeroportos.
(d) A imagem internacional do Rio foi maculada?
Claro. Mais uma vez.
(e) Conseguiremos realizar com êxito a Copa e as Olimpíadas?
Sem dúvida. Somos ótimos em eventos. Nesses momentos, aparece dinheiro, surge o “espírito cooperativo”, ações racionais e planejadas impõem-se. Nosso calcanhar de Aquiles é a rotina. Copa e Olimpíadas serão um sucesso. O problema é o dia a dia.
Palavras Finais
Traficantes se rebelam e a cidade vai à lona. Encena-se um drama sangrento, mas ultrapassado. O canto de cisne do tráfico era esperado. Haverá outros momentos análogos, no futuro, mas a tendência declinante é inarredável. E não porque existem as UPPs, mas porque correspondem a um modelo insustentável, economicamente, assim como social e politicamente. As UPPs, vale dizer mais uma vez, são um ótimo programa, que reedita com mais apoio político e fôlego administrativo o programa “Mutirões pela Paz”, que implantei com uma equipe em 1999, e que acabou soterrado pela política com “p” minúsculo, quando fui exonerado, em 2000, ainda que tenha sido ressuscitado, graças à liderança e à competência raras do ten.cel. Carballo Blanco, com o título GPAE, como reação à derrocada que se seguiu à minha saída do governo. A despeito de suas virtudes, valorizadas pela presença de Ricardo Henriques na secretaria estadual de assistência social --um dos melhores gestores do país--, elas não terão futuro se as polícias não forem profundamente transformadas. Afinal, para tornarem-se política pública terão de incluir duas qualidades indispensáveis: escala e sustentatibilidade, ou seja, terão de ser assumidas, na esfera da segurança, pela PM. Contudo, entregar as UPPs à condução da PM seria condená-las à liquidação, dada a degradação institucional já referida.
O tráfico que ora perde poder e capacidade de reprodução só se impôs, no Rio, no modelo territorializado e sedentário em que se estabeleceu, porque sempre contou com a sociedade da polícia, vale reiterar. Quando o tráfico de drogas no modelo territorializado atinge seu ponto histórico de inflexão e começa, gradualmente, a bater em retirada, seus sócios –as bandas podres das polícias-- prosseguem fortes, firmes, empreendedores, politicamente ambiciosos, economicamente vorazes, prontos a fixar as bandeiras milicianas de sua hegemonia.
Discutindo a crise, a mídia reproduz o mito da polaridade polícia versus tráfico, perdendo o foco, ignorando o decisivo: como, quem, em que termos e por que meios se fará a reforma radical das polícias, no Rio, para que estas deixem de ser incubadoras de milícias, máfias, tráfico de armas e drogas, crime violento, brutalidade, corrupção? Como se refundarão as instituições policiais para que os bons profissionais sejam, afinal, valorizados e qualificados? Como serão transformadas as polícias, para que deixem de ser reativas, ingovernáveis, ineficientes na prevenção e na investigação?
As polícias são instituições absolutamente fundamentais para o Estado democrático de direito. Cumpre-lhes garantir, na prática, os direitos e as liberdades estipulados na Constituição. Sobretudo, cumpre-lhes proteger a vida e a estabilidade das expectativas positivas relativamente à sociabilidade cooperativa e à vigência da legalidade e da justiça. A despeito de sua importância, essas instituições não foram alcançadas em profundidade pelo processo de transição democrática, nem se modernizaram, adaptando-se às exigências da complexa sociedade brasileira contemporânea. O modelo policial foi herdado da ditadura. Ele servia à defesa do Estado autoritário e era funcional ao contexto marcado pelo arbítrio. Não serve à defesa da cidadania. A estrutura organizacional de ambas as polícias impede a gestão racional e a integração, tornando o controle impraticável e a avaliação, seguida por um monitoramento corretivo, inviável. Ineptas para identificar erros, as polícias condenam-se a repeti-los. Elas são rígidas onde teriam de ser plásticas, flexíveis e descentralizadas; e são frouxas e anárquicas, onde deveriam ser rigorosas. Cada uma delas, a PM e a Polícia Civil, são duas instituições: oficiais e não-oficiais; delegados e não-delegados.
E nesse quadro, a PEC-300 é varrida do mapa no Congresso pelos governadores, que pagam aos policiais salários insuficientes, empurrando-os ao segundo emprego na segurança privada informal e ilegal.
Uma das fontes da degradação institucional das polícias é o que denomino "gato orçamentário", esse casamento perverso entre o Estado e a ilegalidade: para evitar o colapso do orçamento público na área de segurança, as autoridades toleram o bico dos policiais em segurança privada. Ao fazê-lo, deixam de fiscalizar dinâmicas benignas (em termos, pois sempre há graves problemas daí decorrentes), nas quais policiais honestos apenas buscam sobreviver dignamente, apesar da ilegalidade de seu segundo emprego, mas também dinâmicas malignas: aquelas em que policiais corruptos provocam a insegurança para vender segurança; unem-se como pistoleiros a soldo em grupos de extermínio; e, no limite, organizam-se como máfias ou milícias, dominando pelo terror populações e territórios. Ou se resolve esse gargalo (pagando o suficiente e fiscalizando a segurança privada /banindo a informal e ilegal; ou legalizando e disciplinando, e fiscalizando o bico), ou não faz sentido buscar aprimorar as polícias.
O Jornal Nacional, nesta quinta, 25 de novembro, definiu o caos no Rio de Janeiro, salpicado de cenas de guerra e morte, pânico e desespero, como um dia histórico de vitória: o dia em que as polícias ocuparam a Vila Cruzeiro. Ou eu sofri um súbito apagão mental e me tornei um idiota contumaz e incorrigível ou os editores do JN sentiram-se autorizados a tratar milhões de telespectadores como contumazes e incorrigíveis idiotas.
Ou se começa a falar sério e levar a sério a tragédia da insegurança pública no Brasil, ou será pelo menos mais digno furtar-se a fazer coro à farsa."

domingo, 28 de novembro de 2010

Para nunca esquecermos

Na verdade é pueril pensarmos que a favelização deu-se apenas por projetos urbanos feitos pela metade. A intenção do governo - desde a República Velha - era erradicar primeiro os cortiços e depois as favelas. Excluí-las sócio-espacialmente do perímetro urbano. Bem, conseguiram ... Não é difícil percebermos o quanto a população carioca, brasileira e mundial dá as costas às favelas, a pobreza e a marginalização do mundo todo.
Esta situação que infelizmente estamos presenciando e, obviamente, ficandos horrorizados e indignados, é uma triste rotina de muita gente. Houveram outras vezes em que o Exército foi chamado para interferir no caos carioca. Entretanto, justamente por este filme se repetir tantas vezes é que ficamos céticos.
Sou a favor das ocupações, sou a favor das UPPs, sou a favor da extirpação do crime organizado e do poder paralelo. O monopólio do poder cabe ao Estado, e o Estado deve utilizá-lo para garantir a sobrevivência daqueles que o governam. Porém não é apenas com estas ocupações que livraremos a longo prazo o Rio da violência. Violência não se resolve com violência (o contrário do que aquele texto ridículo da prova do ENEM nos dizia - o mesmo que nos relatava que o salário de um traficante é muito mais alto do que o nosso salário de bacharel será um dia).
Necessitamos de uma boa política de Segurança Pública, que deve estar em consonância com políticas de educação, saúde e oportunidades de emprego. De que adianta erradicarmos os criminosos se não erradicamos os mitos que se criaram acerca de suas imagens. Como podemos esperar que uma criança escolha estudar anos de sua vida em uma escola precária sem saber se arranjará emprego, quando ela pode entrar para o crime e em alguns anos ganhar respeito e dinheiro.
Este é o mesmo discurso que todo mundo faz e ouve, mas talvez seja o certo. Ainda tem muito o que melhorar no Rio de Janeiro e no Brasil, entretanto o simples fato de vermos o apoio dos civis a ocupação das favelas comandadas por crime organizado, já nos faz perceber que a cara do rio está mudando. Se nos comprometemos a um "Contrato Social" com nossos governantes, é mais do que necessário que confiemos nesses governantes. Se abdicamos de nossa já ressecada liberdade para que eles nos dêem segurança e garantam nossos direitos, deve existir uma relação de confiança. Por maiores que sejam as críticas feita às UPPs, elas proporcionaram um sentimento maior de segurança e de união ao estado.
E Cesar, eu gostaria muito que a população se mobilizasse em uma passeata contra o crime organizado e essas coisas, porém, somos munidos apenas de palavras e ideologias, eles estão munidos de metralhadoras e afins. A sociedade já está fazendo a sua parte, que é a de ajudar o poder público apoiando as operações policiais, denunciando os bandidos e principalmente sobrevivendo a cada dia.

Creio que não tenha mudado muita coisa, tinha mais coisas para falar mas não quero deixar o post muito longo e cansativo.
Abraços, e que esta situação melhore e quem sabe vejamos um dia o Rio realmente como uma cidade maravilhosa.
"o Rio continua lindo ..."

sábado, 27 de novembro de 2010

Para quebrar um pouco o clima de tensão...

Cambada toda estressada e puta com o estado caótico do Rio. Como é típico de minha parte fazer piadas *geralmente* toscas sobre assuntos *quase sempre* sérios, vou tentar animar o ânimo da galera com um dos grandes poemas dos gênios anônimos que por aí andam.


"Toilet Thinker"

I come here to shit and stink,
But all I do is sit and think;
And I sit here, brokenhearted -
Couldn't shit, only farted.

Some come here to sit and think,
some come here to shit and stink,
but I come here to itch my balls,
and read the writing on the walls.

Here I lie, in stinky vapour,
'Cuz a bastard stole the toilet paper;
Shall I lie, shall I linger..
Or shall I be forced to use my finger?

Apesar de querer animar os ânimos da galera, também me aproveito do poema para dar uma idéia para os amigos refletirem...
O povão, os metidos a ricos, os que não aguentam mais o estado atual, os ricos convencidos, os humildes que são pegos no fogo cruzado, os que se cansaram de apanhar... São exatamente os que não fazem absolutamente nada para mudar isso. Assim como nosso pensador do banheiro, estão presos àquela merda, envoltos por seu vapor, sentados sem o papel higiênico necessário para limpar a cagada por culpa de algum filho da puta.
Reflitam... O pensador tem algumas opções pra sair daquela situação, mas nada faz. E vocês, caros amigos? Ficariam parados reclamando e pensando ou usariam o dedo (ou a meia, a camisa, gritaria, sairia de bunda suja...)?

Para virar filme

Um choque, uma revolta, e isso tudo causado pelo dito “sistema”. Teorias e achamentos nos levam a crer que nesse país a culpa é variavelmente mutável, de pessoa a pessoa, de lugar a lugar. Esse choque de poder e sociedade fazem os menos favorecidos acreditarem naquele que trás a melhor história (estória não existe). Do poder público a criminosos, de usuários até nós mesmos. A realidade? Somos partes, todos nós, de uma culpa coletiva, ajudando uns aos outros a escapar da justiça que se for feita de fato levaria o povo, do baixo ao alto, do feio ao bonito, para a cadeia.
Entro com esse choque de idéias para criticar as mesmas cerca do que acontece atualmente com a nossa cidade, o Rio de Janeiro, que mais que uma cidade maravilhosa, a nossa cidade. Esse choque se inicia a partir do momento em que urbanistas idealizaram projetos pela metade, porém não digo que a história e seus personagens estiveram errados, o que se passou não pode ser de fato questionado até porque não vivemos na mesma época. O projeto estava pela metade porque se planejava o transporte, mas não se planejava o social, e isso levou a procura pelas favelas como moradia, não precisa ser especialista e nem muito inteligente para perceber isso. Na verdade esse não foi o começo, mas vou começar por aí para ser rápido e direto. O governo, e a população, demorou a reconhecer esses lugares de moradia precária, enquanto outros, os “bandidos”, usavam esses lugares para se esconder e se afirmar como poder, e é claro, realizar ali o ponto principal do comércio, seguros na sua própria sociedade, depois de um tempo surgiram às milícias, policiais militares perceberam o lucro da região e as tomaram com a ajuda de políticos mal intencionados, os corruptos, como mostra o filme “Tropa de Elite 2”, mas essa parte já vem bem explicada no filme. Isso tudo, com a criada UPP, nos levam aos dias de hoje.
Hoje, podemos dizer que a culpa vem de cima, daqueles que hoje mandam polícias e militares para confrontar bandidos numa Guerra Civil carioca, mas também as teorias não terminam por aí, os culpados, podem também vir da nossa classe, os viciados, que sempre sustentaram o que hoje estamos TODOS cultivando. E nessa guerra aonde achamos vários culpados, porém todos incertos, temos vítimas, temos ameaças, temos medo, no que poderíamos chamar de mais novo episódio da história dessa cidade, um episódio, que, como outros, terá filmes que abordam o assunto, da visão do rico, da visão do pobre, da visão geral, mas mesmo assim, apesar de tudo isso, o que mais me deixa indignado, além de não poder fazer nada, é que depois desse filme a situação vai continuar igual.
Mas o Rio continua lindo...

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Poemas e mais poemas

Já tem um tempo que não posto poemas (e na verdade acho que tem tempo que ninguém abre esse blog), portanto resolvi postar dois poemas meus. O primeiro, "Poema IV", foi escrito a algum tempo atrás (um ou dois meses), e tem esse título porque eu sou péssimo para nomear textos e não consegui pensar em nenhum nome. O segundo, "Chuva de Lírios", foi escrito esta semana ao acaso, a partir de uma conversa que eu estava tendo com o Rodrigo.
Já a terceira não é um poema, é uma música do grande Chico Buarque, que dispensa apresentações.

Poema IV (Ricardo José)

Na escuridão do amanhecer,
Perco-me em suas curvas
E inebriado por seus beijos
Adormeço ao teu lado.

No frio que sinto ao meio-dia,
Longe de ti,
Anseio seus olhos,
Penso em seus lábios.

No desejo do entardecer,
Confundo-me com seus cabelos
E no suspiro uníssono
O amor grita e se sacia.

Na inverossimilhança do anoitecer,
Ouço tua voz doce e suave
Que se perde em meus devaneios
E se funde ao véu da noite.

No calor da madrugada
Choro em teus braços,
Pelos abraços que não tive,
Pela saudade que um dia sentiria.


Chuva de Lírios (Ricardo José)

Noite escura sem luar,
Nem mesmo o mar me encontrou
Nem as estrelas sorriram.
As árvores se envergaram
Para ouvir meu doce pranto
E o vento congelou minhas lágrimas,
Para sempre em meu rosto magro.

Vejo apenas esta chuva
Que dissolve meus vãs pensamentos,
E que com a límpida água
De seus devaneios,
Minha saudade germine,
Nesta madrugada lenta,
Em um amor.

Que a lua apareça
E reflita, em uma espiral
De cores, a luz de teus olhos
Em cada gota de chuva
Que irrompe deste céu amargo.

Que o desabrochar do lírio
Venha com o início da aurora,
Com o final da chuva,
Com o teu beijo,
Com você.




Roda Viva (Chico Buarque)

Tem dias que a gente se sente
Como quem partiu ou morreu
A gente estancou de repente
Ou foi o mundo então que cresceu
A gente quer ter voz ativa
No nosso destino mandar
Mas eis que chega a roda-viva
E carrega o destino pra lá

Roda mundo, roda-gigante
Roda-moinho, roda pião
O tempo rodou num instante
Nas voltas do meu coração

A gente vai contra a corrente
Até não poder resistir
Na volta do barco é que sente
O quanto deixou de cumprir
Faz tempo que a gente cultiva
A mais linda roseira que há
Mas eis que chega a roda-viva
E carrega a roseira pra lá

Roda mundo (etc.)

A roda da saia, a mulata
Não quer mais rodar, não senhor
Não posso fazer serenata
A roda de samba acabou
A gente toma a iniciativa
Viola na rua, a cantar
Mas eis que chega a roda-viva
E carrega a viola pra lá

Roda mundo (etc.)

O samba, a viola, a roseira
Um dia a fogueira queimou
Foi tudo ilusão passageira
Que a brisa primeira levou
No peito a saudade cativa
Faz força pro tempo parar
Mas eis que chega a roda-viva
E carrega a saudade pra lá

Roda mundo (etc.)

sábado, 20 de novembro de 2010

Nalgum Lugar

Mais um post, mas agora uma música belíssima de Zeca Baleiro.
Na verdade a letra não é dele, é de um poema de e. e. cummings, cuja tradução foi feita por Augusto dos Anjos. Entretanto Zeca nos deu esta maravilhosa interpretação para a música, além da melodia espetacular.

Nalgum Lugar (e. e. cummings)

nalgum lugar em que eu nunca estive, alegremente além
de qualquer experiência, teus olhos têm o seu silêncio:
no teu gesto mais frágil há coisas que me encerram,
ou que eu não ouso tocar porque estão demasiado perto

teu mais ligeiro olhar facilmente me descerra
embora eu tenha me fechado como dedos, nalgum lugar
me abres sempre pétala por pétala como a Primavera abre
(tocando sutilmente, misteriosamente) a sua primeira rosa

ou se quiseres me ver fechado, eu e
minha vida nos fecharemos belamente,de repente,
assim como o coração desta flor imagina
a neve cuidadosamente descendo em toda a parte;

nada que eu possa perceber neste universo iguala
o poder de tua imensa fragilidade: cuja textura
compele-me com a cor de seus continentes,
restituindo a morte e o sempre cada vez que respira

(não sei dizer o que há em ti que fecha
e abre; só uma parte de mim compreende que a
voz dos teus olhos é mais profunda que todas as rosas)
ninguém, nem mesmo a chuva, tem mãos tão pequenas


Dissabores

Sinto-me cansado, mais do que fisicamente, sinto-me exaurido mentalmente, vejo-me exausto com o mundo.
Não aguento mais manchar as minhas mãos de sangue sempre que abro os jornais. Não aguento mais passar na rua e ver homens, mulheres, crianças e velhos jogados na rua, com fome e frio, entregando-se às drogas para "enfrentar" um mundo que escolhemos não ver. Sinto meu peito pesar com tanta miséria espalhada, e sinto-me enfurecido com tanta riqueza concentrada.
Não quero tornar este um post 'anti-capitalismo', até porque sei que são poucos o que aguentam ouvir esses meus discursos chatos, mas não consigo me acostumar com a ideia de viver nesta desigualdade e não ligar para ela. Já fui recriminado inúmeras vezes por minha necessidade de falar sobre política e fazer críticas (muitas vezes construtivas, pois às vezes nos esquecemos que criticar também é falar bem). Resultado: parei de discursar sobre minha indignação quanto ao estado precário da sociedade global, em como nos vendemos, parei de falar sobre a espoliação que sofremos nesses 510 anos de história, dos latifúndios, dos monopólios, das 'ajudas' internacionais, da belíssima "Doutrina Monroe", dos nossos 121 de majestosa República que jamais governou para o povo, que jamais foi proclamada pelo povo.
Mas é impossível para mim manter-me calado frente a tamanhas atrocidades, pode-se ver pelo parágrafo anterior ...
Na verdade eu ia apenas escrever que já estava cansado de provas de vestibular e que já não tinha certeza da minha escolha de curso (algo frequentemente normal na minha vida, se indecisão matasse ...). Eu estou prestando para Psicologia, mas tenho dúvidas em relação ao curso de Ciências Sociais. Um perrengue na minha vida, uma tempestade em copo d'água, eu sei, mas fazer o quê ...
Desculpem pelo post um pouco mais ácido, mas como tenho falado menos sobre essas coisas acabo escrevendo mais sobre elas, é uma forma de eu encontrar meu equilíbrio.
São quase insaciáveis esses dissabores, chegam até a ser deliciosamente intragáveis.
Abraços e boa prova amanhã! (a todos que farão para a UFRJ)

terça-feira, 9 de novembro de 2010

RE: Marés de Sol

Pois é, Ricardo. Nesse último mês, senti-me envelhecer uns 20 anos, emocionalmente e mentalmente.
Assim como sua frase estranha, passo pela minha. Nos últimos dias, principalmente.

Você comentou "nada na vida é eterno, tudo morre, mas não é por isso que devemos viver vagamente. Cada momento terá sua marca e será infinita enquanto vivermos, pois não devemos ditar o infinito pelo tempo, mas pelo que dele aproveitamos, nossa vida é infinita enquanto vivermos." . Simpatizo com isso. Pela primeira vez, ao sair de um relacionamento (explico em breve), não caí em prantos, não estou depressivo, não me sinto como um suicida. Pelo contrário, me sinto feliz, alegre. Quotando a mesma frase de Vinícius de Moraes "Mas que seja infinito enquanto dure". Não choro porque acabou, mas fico em êxtase, feliz e alegre ao saber que realmente existiu, não importa a duração disso.


Agora à explicação: Meu namoro acabou, amigos. Como um cavalo no Tabuleiro de Xadrez, sinto-me um estrategista que sempre busca o melhor posicionamento. Acho que em meu subconsciente, me fiz namorado para ajudar as fases ruins de ambos os lados a passarem. Sou o melhor amigo, não sirvo para desempenhar a função de namorado. Mas fiz o que pude, fui o melhor que pude. E pude ajudar a deixar alguém feliz, ao mesmo tempo em que estava feliz por isso e amadurecia. Eu era livre desde que a conheci. Eu retomei as rédeas da minha razão, minha vida entrou no rumo novamente. Sou extremamente grato à Ela por isso.

Peço desculpas aos amigos do blog por usá-lo como um dos meus confessionários. Agradeço à paciência de vocês para comigo.

Abraço à todos, espero que não cancelem nosso ENEM e que possamos entrar nas facul antes de 2012. Sei lá, quero entrar antes que acabe o mundo, sacou? rsrs

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Marés de Sol

Já tinha muito tempo que não entrava no blog, peço desculpa pelo afastamento, mas final de ano é complicado pra qualquer bom estudante brasileiro, e com isso quero dizer: todos os alunos que deixam todos os trabalhos pro último dia.
Quero dizer também que venho passando por uma fase um tanto quanto estranha. Não entrarei em detalhes, mas venho sentindo uma liberdade que antes não via. É estranho pois sempre fui acostumado a manter-me preso à algo, a manter-me em dia com minhas responsabilidades e preocupar-me demais com ela. É provável que apenas esteja me prendendo à alguma coisa diferente e esteja naquela fase de excitação por algo novo, pois, como disse Saramago: "Nós temos a simplicidade de pertencer à alguma coisa, e parece que a liberdade plena seria a de não pertencer a coisa nenhuma".
Porém que seja, que eu me prenda à alguma coisa, mas que eu me sinta livre, que eu me sinta feliz, ainda que momentaneamente, entretanto, que seja como disse Vinicius: "Mas que seja infinito enquanto dure".
É assim que formulei minha filosofia, nada na vida é eterno, tudo morre, mas não é por isso que devemos viver vagamente. Cada momento terá sua marca e será infinita enquanto vivermos, pois não devemos ditar o infinito pelo tempo, mas pelo que dele aproveitamos, nossa vida é infinita enquanto vivermos. Vivê-la, entregar-se à ela, com todos os seus defeitos (e são eles que a deixam tão bela), com todo o seu cotidiano e tédio. Viver é saber aproveitar o erro e sorrir verdadeiramente. Não é fácil, pelo contrário, estaria mentindo se dissesse que sigo a minha filosofia afixionadamente ... Mas viver não se trata só de sorrir, a tristeza tem seu papel de suma importância, com ela podemos aprender e evoluir, mas também podemos nos perder e apenas sofrer.
Esse texto na verdade não faz muito sentido, apenas tinha tempo que não escrevia de verdade no blog (normalmente apenas "colo" poemas meus ou músicas), mas por algum motivo eu não paro de pensar que no final do dia o sol sempre se põe enfraquecido no mar e, num sinal de resistência vã, espelha-se em todas as marés, como se pudesse reviver. Mas tudo tem que morrer para algo nascer. O ciclo da vida é esse paradoxo justamente injusto.

Então luto para que meu sol não morra, mas de alguma forma, saber que acabará me faz ter necessidade de ter menos controle da minha vida, faz-me querer deixar as coisas seguirem seus rumos naturais, dá-me vontade de querer ver uma felicidade real, não-induzida, ter seus ápices e ver suas quedas, participar de tudo me faz feliz. Na minha opinião viver é intransitivo e tem seu fim em si mesmo, viver é por viver, não há outro motivo, não vivemos por tal coisa ou alguém, este alguém ou esta coisa está lá porque vivemos e a escolhemos para viverem conosco, não para a gente, mas com a gente. Agora eu sinto que vivo um pouco mais que antes, porque aprendi a me desligar um pouco do mundo e a me ligar ao que realmente me interessa, a fazer o que me faz bem.

Papo de livro de auto-ajuda, filme da sessão da tarde e de gente velha, eu sei mas, perdoem-me a expressão, foda-se, vamos viver!

Beijos e abraços e que esse ano de vestibular acabe logo, pois pelo visto faculdade ... só em 2012!

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Aos Amigos

Gostaria de parabénizar à todos os Amigos Autores por seus trabalhos, que, ao meu ver, são obras de arte.
Além de puxar saco, estas palavras são para expressar minha honra por escrever aqui.
Digo, é gratificante poder trocar idéias com vocês, ler seus textos, compartilhar os meus. É como aquela mesa de bar onde todo bebum afoga as lágrimas e partilha as felicidades enchendo a cara e batendo papo com o garçom (Homenagem ao Grande Mestre da Música Popular Brega e Brasileira, Reginaldo Rossi).

Quero também dar as congratulações ao Querido Amigo Thadeu (A.K.A. Judeu Pigmeu) por seus prêmios no Momento Das Artes do Colégio Zaccaria.
Aproveito este momento de felicidade para agradecer aos Amigos Gabriel (A.K.A. Palit0) e Luís Augusto (A.K.A. Namorado da Bárbara -q), por inscrever um texto meu ("As Quadras Daquele Momento") no concurso literário que teve no Zaccaria e por me deixar participar no mesmo, respectivamente.

JUDEU SAFADO ME TIROU O PRIMEIRO LUGAR! Mas claramente ele iria ganhar. Thadeu > Romantic Unleashed.
Sou um grande fã desse menino de meio metro.

Abraço à todos!