terça-feira, 30 de novembro de 2010

Flores - Conto

Pessoal, vou postar algo um pouco diferente do habitual. Este é um "conto" que escrevi a bem pouco tempo atrás (3 semanas no máximo). Não é o primeiro, mas será o primeiro que postarei e, quem sabe, postarei mais nas próximas vezes.
Digam-me o que acham!!!


Flores (Ricardo José)

Era mais um dia normal, toda a simplicidade do cotidiano coexistia. Ainda sentado no sofá, com um livro semi-aberto nas mãos, o rádio tocava algo quase imperceptível. Tudo que ouvia era o balançar das árvores do lado de fora e o uivo do vento. Seus olhos cerrados, não dormia, mas não estava consciente. Sua cabeça pendeu para o lado, acordou de súbito, de repente a música parecia alta demais. Passou as mãos no rosto e esfregou a cabeça. Dez minutos daquele jeito, parecera um ano. Quantas recordações lhe vieram, quantos planos ... Fechou as janelas, e com elas as ilusões.

O frio percorreu-lhe o corpo, e com ele a solidão. Mas que droga, ele falou bem alto. Não queria pensar naquilo, naquela tristeza. Estava cansado de sentir-se assim, mas não sabia como fugir daquilo. Passava o dia assim, aonde quer que estivesse, o mais simples pensamento lhe remetia a ela.

Acontecera de novo, estava paralisado olhando pela janela, vendo a estranha dança das borboletas, confundia-as com as cores das rosas. Rosas ... Por que quando nos apaixonamos tudo parece interligado? Quanto mais tentava esquecer mais lembrava.

Tentou odiá-la, mas foi o inverso. Desistiu, deixou este trabalho para o tempo. Mas por que demorava tanto? Pensou em perdoá-la, mas não dava, isto era impossível, ela brincara com ele, ferira-o de tal forma e com tanto empenho que era digna de um prêmio. Devia haver um para gente como ela ...

Olhou para a cama e se viu deitado ao lado dela. Mas também viu o outro, viu os dois rindo dele. Há uma semana que não se deitava naquela cama.

Sentiu raiva. Quis ligar para ela, xingá-la, humilhá-la, mas claro, não o fez. Jamais conseguiria, não era o seu modo de agir.

Na fatídica tarde em que tudo começara ele também se sentiu assim, impotente, queria quebrar tudo, mas manteve uma calma glacial, inexistente. Falou tudo que sentia. Queria ter perdido a razão, queria não ser assim.

Não sabia quanto tempo mais iria reviver aquilo tudo. Mas apesar das dores, sorria inúmeras vezes ao se lembrar dela e deles dois juntos.

Acho que a vida é assim, ele pensava, momentos bons e ruins. Só precisamos aprender a encará-los na hora certa.

Riu. Quantos livros lhe diriam aquilo? Biscoitos da sorte diziam o mesmo.

Sentou-se novamente no sofá. Olhou placidamente o movimento ininterrupto do ventilador. Acendeu um cigarro e viu a fumaça subir tímida, dispersante.

O som do rádio voltou a sumir, como a fumaça. Os últimos raios de sol incidiam e formavam cores infindas nas lágrimas que escorriam de seus olhos. Não chorava por vontade, era um grito de sua alma, um transbordar do pranto. O renovar da esperança.

O mar parecia perto e o horizonte era palpável, sentiu o amargo beijo da saudade vir com o vento gélido. Viu o sol se pôr e seus olhos fecharem, seu peito tinha o ritmo das marés. Não pensava mais nela, mas via as paredes de seu castelo interno desmoronarem com o mar.

Entendeu ao ver a dança da natureza, todo fim é o início de um ciclo eterno. Como borboletas dançamos, voamos e buscamos em cada flor nossa desenvoltura e o completar de nosso âmago. Em cada flor morremos e ressuscitamos. Em cada flor, em cada amor, vivemos.

3 comentários:

  1. Juro por Deus que no final me arrepiei... Muito bom... O jeito que você utiliza as palavras quando quer descrever um sentimento, um lugar... emocionante...

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