Olá de novo, estou pegando o ritmo de postar novamente.
Eu realmente não sabia se deveria postar ou não esta "carta", mas justamente por ela ser pessoal demais que estou postando. Ao escrevê-la senti um certo alívio e ao mesmo tempo pesar, e pensei que talvez mostrá-la ajudasse e tornasse essa dor menos real.
Sinto muito por ela ser demasiadamente pessoal e por estar inserindo vocês em alguns problemas pessoais, mas espero que gostem, e espero sinceramente que não se identifiquem.
Abraços!
Carta inaudível ao pai
Pai,
Sinto-me antes de tudo, encabulado por precisar escrever todos esses sentimentos, mas não adquiri ao longo dessa vida a coragem suficiente para lhe dizer tudo.
É com pesar que admito que nunca fomos muito próximos, nunca choramos juntos, compartilhamos poucos momentos profundos e de caráter emocional. Mas de forma alguma o culpo, até porque, se sou hoje o que me tornei, foi graças ao seu empenho e, principalmente, esforço.
Sinto muito que você tenha precisado abrir mão de tantas coisas, que você tenha tido uma vida difícil para cuidar de nós. Sinto por tudo que o senhor poderia ter sido se não fosse por mim.
E é por isso que eu mais te admiro. Todos os esforços que você fez, todos os momentos pelo qual passou, você passou por mim. Não quero parecer narcisista, sei que não foi absolutamente por minha causa, mas também é por isso que te admiro, você fez pela família. Todos os anos que você suportou longe, trabalhando, apenas para nos dar uma vida cômoda.
Com o senhor aprendi o valor e a necessidade do trabalho, mas principalmente, a importância da família, e o que ela representa.
Reconheço o herói que você é, mas na nossa relação eu me odeio. Porque tenho medo de me abrir. Medo de te contar tudo, medo de não ser aceito ... Considero-o demais e quero ser em muitos pontos como você, porém, esse medo herdei de você. Somos ambos introspectivos, afundam-se em livros e pensamentos e esquecem de si mesmo. Preocupamo-nos muito com os outros e o mundo, e nessa preocupação nos esquecemos. Temos sede por conhecer, por entender, e nessa busca, afastamo-nos.
Somos ambos solitários, pai, mas não queria que estivéssemos separados. Nessa relação eu me odeio pois deixei isto se concretizar. Você me deu tudo, e eu te dei pela metade o meu amor. Não sei como me aproximar, e sinto a sua falta, preciso de você, mesmo que eu já esteja velho e taciturno, anseio por sua voz.
Muitas vezes só preciso ouvir de você o que fazer ... Esse afastamento me fez amadurecer rápido demais, tornou-me responsável demais, tanto que me arrependo às vezes, mas me espelhei em ti, quis ser você, mas falhei. Estou tentando ser eu, mas às vezes me vejo perdido, sem a sua mão.
Mas o maior dos pesares, e isto faz meu peito apertar e sufocar, é nunca ter lhe dito "eu te amo" olhando em seus olhos. Sinto vontade de chorar ao pensar assim. Preciso me desculpar, e aceitando-me, dizer essa frase que me sufoca. E quem sabe assim tudo mude, e eu enfim me encontre.
Amo-te, meu pai. Verdadeiramente.
PS: Temo que esta carta seja inaudível, pois todos esses pensamentos talvez nunca virem palavras, e eu me arrependa de cada segundo que passei calado a teu lado.
Ricardo José
16/09/2010
Ricardo, te amo cara...
ResponderExcluir