quinta-feira, 21 de julho de 2011

"Não deixe o Blog morrer, não deixe o Blog acabar..."

Salve colegas de trabalho e assistentes de palco, eu sei que hoje não é meu dia (nem sei se ainda existe essa parada dos dias) mas não aguentava mais ficar sem postar. Estava esperando meu amigo Ricardo revisar este pequeno conto que lhes encaminharei a seguir, porém, devido à sua conturbada vida de universitário, ele não pode faze-lo, então postarei o texto como o escrevi, perdoem meus erros de continuidade e gramática, ainda sou um iniciante na prosa. Enfim, sem mais delongas, vamos ao texto:


À Mãe Natureza

Subo correndo as escadas, com a blusa colada no corpo, devido ao suor, vim correndo da casa dela até aqui. No quinto andar procuro o 512, bato 3 vezes apressadamente e ouço a voz do Marcelo: - Já vai !! – Vem logo porra! – Quase grito para o prédio inteiro. Ele abre a porta e diz: - Quié cara? Te falei pra você não voltar aqui, você quer me fuder ?
- Eu fiz cara – digo – Meti três balas no bastardo, só que eles estavam na cama e a Joana pulou na frente no quarto tiro, foi em cheio no coração dela, merda cara, não queria acerta-la, eu fiz isso tudo por ela, eu a amo, consegui matar a única pessoa que já amei na porra da minha vida. Marcelo já me olhava com carará de raiva, seu rosto parecia um tomate de tão vermelho, ele disse: - E você veio pra cá, seu idiota ? Só porque eu te vendi esse “ferro” não quer dizer que eu seja responsável pelas suas merdas. Dá o fora da minha casa antes que eu quebre a sua cara – Nisso ele já estava me empurrando porta a fora. E agora? O que fazer? Pra onde ir? Me entregar? Jamais! Sempre fui ensinado, por meu pai, a agir como homem, mas o que fazer? Se eu for para cadeia simplesmente não vou conseguir sobreviver uma semana, imagino a cena, o playboy da Zona Sul virando putinha de marginal no xadrez. Foda-se o que meu pai disse, o único jeito de salvar meu rabo é acabando comigo mesmo antes deles, nada mais vale a pena mesmo, eu matei a Joana e não posso agüentar os, no mínimo 20, anos de reclusão por um duplo homicídio, merda deveria ter sido só um, merda Joana.
Decidi que ia me matar, mas como fazer isso? Pensei na ponte da cidade, um lugar alto, deserto e com uma porrada de pedras pontudas no fundo do mar, uma queda dali é tão fatal quanto um acidente de carro.
Começo a andar em direção a ponte, como um condenado atravessa o corredor da morte, “homem morto passando” penso. As ruas estavam desertas, já passa das 3 da manhã. Começo a sentir um aperto no coração ao lembrar da minha história com Joana. Da primeira vez que a vi...
Lá estava ela, com os livros do curso de direito na mão, atravessando o campus, e eu, com os meus de arquitetura na mochila, parei um pouco para admirar aquele pedaço do céu passar por perto de mim, eu sabia que era ela, tinha que ser. Não demorou muito para começarmos a nos ver, como amigos, eu era muito idiota para dar em cima dela tão descaradamente, como faziam os outros “amigos” dela, principalmente o Carlos. Me doía ver que ela se interessava mais pelos cortejos vulgares dele do que das minhas inocentes demonstrações de afeto, por que ? Por que ele era o comedor de olhos azuis e tanquinho e eu era o esquisito nerd q eu só tirava dez e pensava num futuro com ela? Agora penso assim, antes estava cego.
Um dia resolvi que não dava mais pra segurar tudo calado, eu tinha que dizer o quanto a amava. Preparei tudo, chamei-a para um jantar em um restaurante muito caro, dinheiro nunca foi problema pra mim e minha família, comprei-a um colar e me declarei, disse-lhe tudo o que sentira, o quanto a amava e quanto sofria por segurar isso apenas para mim, Vi o rosto dela se tornar um poço vermelho de vergonha, ela procurou não ser indelicada, mas acabou sendo, me disse que só queria minha amizade e que não sentia absolutamente nada por mim. Ela foi para casa e não devolveu meu colar.
A dor foi tanta que por uma semana não sair do meu quarto, me tranquei com litros de vodka barata e revezava entre os cigarros, os goles, as lágrimas e o pensamento nela. Senti pena de mim mesmo, decidi tentar recomeçar, voltei para a faculdade e, para meu sofrimento, descobri o quanto meu mundo havia mudado nessa fatídica semana.
Não demorei muito para esbarrar com Joana, e para minha total decepção, com Carlos, segurando sua mão, beijando sua boca, cheirando seus lindos cabelos.
Nada mais valia nesse mundo, corri pro bar mais próximo para tentar afastar a dor com o álcool. No bar, chorando, conheci Marcelo, um traficante fudido e asqueroso da região, que me ofereceu um traçado de coca pra botar a cabeça no lugar. Dois dias em contato com a vida tóxica de Marcelo bastaram para que minha decepção virasse ódio, não contra Joana, mas contra o merda do Carlos, que só ficou na espreita esperando que eu saísse de cena pra atacar. Pedi uma arma para Marcelo que me ensinou como carregar e mirar e me disse que se desse merda, não era para procurá-lo tão cedo, que eu estria sozinho nisso, mesmo assim, insisti, afinal a honra de um homem se lava com sangue.
Os segui até a casa dela, onde provavelmente eles iriam passar a noite toda trepando e rindo da porra da minha cara de idiota. Malditos, mas eu ainda a amava, só sentia raiva daquele sorriso falso de cupido daquele filho da puta, que ganhou minha amada. Dei um teco, que reagiu imediatamente com os copos de Whiskey que eu havia tomado, não conseguiria fazer aquilo sóbrio.
Fui, com a ajuda de uma chave de fenda, arrombando as portas e a cada passo o som dos gritos de prazer dela eram mais altos, os gritos que deveriam ser pra mim. Abri a porta do quarto, vi Carlos em cima dela e deixei meu dedo pensar por mim, um nas costas, quase nas nádegas que o fez virar e me ver, confesso que senti um frio ao ver seus olhos em pânico, mas continuei, o segundo pegou de raspão no braço, o terceiro foi no tórax, disparei o quarto só pra garantir e ela pulou na frente, como se fosse blindada, como se pudesse me parar. O sangue do buraco em seu coração era grosso e jorrava rápido, olhei para o seu pescoço e vi o colar de ouro com pingente de coração que eu a havia dado, subi um pouco a vista até seus olhos que já estavam vazios de vida, cheios de morte e sangue. - Merda, merda, merda - pensei apavorado, - fodi tudo -, joguei a arma e a chave de fenda na cama e corri...
Estou aqui agora em cima do parapeiro da ponte, ouço umas sirenes ao longe, devem ser pra mim, mergulho de cabeça, e enquanto caio penso: - A mãe natureza sempre ganha, os machos sempre duelam até o fim pela mesma fêmea, e quando você perde, a “tão frondosa” natureza faz questão de esfregar na sua cara que você perdeu – Dor, sangue, cegueira, morte... Que o mar julgue e lave meus pecados.




Espero que gostem tanto de ler quanto eu gostei de escrever. Confesso que recebi influências claras do livro que estou lendo, O Chefão de Mário Puzzo (o livro que deu origem a trilogia do Poderoso Chefão).

Meus amigos, ainda estou em débito com alguns textos do blog, os lerei em breve. Espero do fundo do meu coração que o Bar dos Amigos não feche tão prematuramente, e nem que fique abandonado criando teias de aranha e poeira nos copos, onde antes repousava o líquido amarelo da vida, também conhecido como: cerveja.

Bom, é isso, até mais

terça-feira, 5 de julho de 2011

Prece a Poesia

Primeiro de tudo peço desculpas pela minha ausência na semana passada, mas realmente não tinha o que postar, e não fui assaltado por alguma indignação política recente para escrever (apesar de tê-las várias, apenas não vieram o suficiente para serem escritas). Este é o problema de ter obrigatoriedade de postagem, às vezes não tenho o que postar, e mesmo tendo alguns poemas ainda não 'publicados', nem sempre sentimos vontade de postar algo antigo.

Enfim, comecei a escrever o seguinte texto no ônibus em quanto voltava da faculdade, rascunhando algumas coisas no celular, ao voltar para casa terminei. Bem, espero que gostem, e como sempre, estou aberto para comentários e afins.

Abraços e, espero, até semana que vem!

Prece a Poesia (Ricardo José)

Se a poesia algum dia servir para algo, peço-a que embeleze a cinza ruína das cidades, que seja como primavera no outono de laços humanos, veraneie o inverno de mortes esquecidas, apague a pobreza do espírito e a miséria do material, extirpe a fome dos homens que abusam, acabe a fome que mata, as barrigas inchadas de miséria e fome e seca, seja como o sol da manhã e ilumine os sem caminho, os perdidos, os ausentes, os mortos, e principalmente os vivos, semeie na tristeza alguma alegria - qualquer alegria. Acabe com a angústia de se enforcar na morte calada da solidão, da noite pérfida e cruel das almas desesperadas, dos corpos mudos de afeto, surdos de empatia, eternamente cegos...

Salve-as, poesia. Salve o contorno das mulheres, a inocência dos que nascem, a inteligência e a honra dos que viveram, a sanidade dos que vivem. Salve a escuridão do mar no final da noite, que é para os homens se lembrarem de como são pequenos, como são ínfimos, como são efêmeros. Salve a lua, mas a esconda de vez em quando, que é para ter qualquer motivo de tristeza, pois, como após a última nota sempre se repete a primeira, da tristeza deve nascer qualquer motivo de alegria. Salve as cores, mas não o preconceito, salve as diferenças, mas não a segregação, salve a humanidade. Salve tudo em suas palavras.

Sei que te peço muito, mas salve o mundo das palavras duras que matam, que fazem chorar, abjetas, ávidas por corroer o pensamento, as ações, os símbolos, os significados, as ideologias, a realidade. Salve o mundo do desafeto e do discurso fácil de fascismo e ditadura, de morte e roubo, de sangue e caos. Salve-os do afogamento, dos esquecidos, dos partidos, dos arrependidos, da inanição, da guerra, da morte que é o fim de tudo, dê-lhes, poesia, dê-lhes um motivo pelo qual viver a morte, faça-os acreditar na mudança, no mundo, na existência, sussurre-os teus versos, tua arquitetura, tuas linhas tortas, teu corpo de contornos suntuosos, macios, atrevidos, tímidos como desejosos amantes, tua rima sem rima, tua transitividade sem complemento, tua oração sem verbo, tua frase sem palavra, tua expressão sem sentido e sem pontuação, seu sentido inevitável, imponderável, incorruptível, eterno.

Discorro em prosa, poesia, eu sei... Pois no fundo acho que esteja morta, ou se não, esqueceu dos seus profetas, deixou-os loucos, esperando seu retorno. Você veio, poesia? Você alguma vez veio? Afinal, você existe? Por favor, exista... Exista mesmo que ilusão, mesmo que ideologia. Não! Exista como ilusão, como ideologia! Salve os sonhos da realidade, permita-os sonhar, poesia, permita-os sonhar uma vez... Sempre...

Desculpe, poesia, mas ao menos salve o significado do amor, que mesmo no teu dicionário frio é como poesia.

sábado, 2 de julho de 2011

Arabutã

 BR116

Olhava as pessoas passarem, correndo, com suas malas e pressas, suas vidas apenas deixadas para trás, observava pessoas que estavam extremamente felizes pelos reencontros e passeios, encontrava pessoas extremamente tristes, mas ele era o único que percebia que ali haviam emoções, sentimentos, compassos, uma verdadeira dança que ele sabia dançar.
A senhora veio em sua direção  lhe deu um salgado para comer.
- Não se preocupe moça, eu tenho comida aqui na mochila.
- Marta.
- Não entendi.
- Meu nome é Marta, não moça. - Um sorriso de canto saiu.
Ficou calado olhando para frente, tentando fingir que já não estava mais ali. Ela olhava fixo para desconcertá-lo.
- Que foi?
- Qual o seu nome?
- Não tenho nome moça... Desculpe... Marta.
Ele não queria seu nome, seu nome não o pertencia, não era da mesma família que a irmã porque o mudaram, o forçaram a mudar o nome, do mesmo modo que o forçaram a se separar da irmã.
Então uma lagrima escorre de seu rosto, toma coragem.
- Mateus.
- Tudo bem Mateus, vamos comprar as passagens.
Eles andaram até o guichê, caminho longo. Ele andava observando a imensidão da viagem, o tamanho daquele lugar.
- Filho, pegue sua identidade, você vai precisar.
Os dois compraram as passagens, o ônibus ia demorar um pouco. Então ela resolve tirar a dúvida.
- Qual o nome da cidade?
- Arabutã.
- Só um minuto
E ela se afastou o que deu tempo de pensar na viagem que iria fazer, imaginava, obviamente, o mais fácil, ir para Caxambu e depois de carro para Arabutã com o marido da Marta.
- Mateus, essa cidade, bem, ela fica aonde?
- Não sei. Só sei o nome na verdade.
- O moço do guichê falou que não tem ônibus para essa cidade, mas disse algo sobre cidades próximas.
- Mas eu não sei.
Ela olhou para os olhos inocentes do adolescente de 15 anos que não sabia nada além do nome. Sua generosidade e pena fez mudar o sentido de sua viagem.
- Quando encontramos meu marido nós vamos ver onde fica Arabutã.
Um sorriso veio ao rosto dos dois e foram conversando, conversaram sobre tudo, menos da profundidade dos segredos de suas vidas. O que tinham que revelar e o que não foi falado.
Já no ônibus para Caxambu, ele só olhava a vista, não fazia mais nada.
- A sua identidade, tinha o nome do seu pai e da sua mãe, o que aconteceu com eles?
- Não sei, eu e minha irmã fomos deixados em um orfanato.
- Vocês foram adotados?
Arregalou os olhos e pensou muitas vezes antes de responder, não queria se entregar, se ela soubesse, estava morto, não por receber castigo dos pais, mas por demorar mais algum tempo até poder ver a irmã.
- Sim, eu fui, mas... Mas eles também desistiram de mim. - Ele não sabia mentir, não podia mentir e também não queria, mas quando se tratava do seu coração, a sua cabeça fazia o certo.
- Meu Deus! E sua irmã?
- Foi adotada e está em Arabutã.
- Tem um monte de coisas que não se encaixam nessa história. - Ele gelou, começou a tremer e tentou criar a melhor história de todas em sua cabeça enquanto ela ia perguntando.
- Primeiro você devia ter voltado ao orfanato, e ninguém ligou que você saiu, segundo, se sua irmã foi adotada...
Uma freada brusca do ônibus jogou os dois para frente e uma sirene forte parava ao lado deles.
Mateus queria naquele momento ajuda, mas se Marta descobrisse ela não iria hesitar em falar a verdade para a polícia, enquanto os múrmuros no ônibus cresciam cada vez mais, ele pensou em sua irmã e imaginou que estaria sozinha, com saudades de seu irmão mais velho, desesperada para sair da casa de duas pessoas que nem ao menos conheciam seus sonhos. Então teve um idéia.