sábado, 2 de julho de 2011

Arabutã

 BR116

Olhava as pessoas passarem, correndo, com suas malas e pressas, suas vidas apenas deixadas para trás, observava pessoas que estavam extremamente felizes pelos reencontros e passeios, encontrava pessoas extremamente tristes, mas ele era o único que percebia que ali haviam emoções, sentimentos, compassos, uma verdadeira dança que ele sabia dançar.
A senhora veio em sua direção  lhe deu um salgado para comer.
- Não se preocupe moça, eu tenho comida aqui na mochila.
- Marta.
- Não entendi.
- Meu nome é Marta, não moça. - Um sorriso de canto saiu.
Ficou calado olhando para frente, tentando fingir que já não estava mais ali. Ela olhava fixo para desconcertá-lo.
- Que foi?
- Qual o seu nome?
- Não tenho nome moça... Desculpe... Marta.
Ele não queria seu nome, seu nome não o pertencia, não era da mesma família que a irmã porque o mudaram, o forçaram a mudar o nome, do mesmo modo que o forçaram a se separar da irmã.
Então uma lagrima escorre de seu rosto, toma coragem.
- Mateus.
- Tudo bem Mateus, vamos comprar as passagens.
Eles andaram até o guichê, caminho longo. Ele andava observando a imensidão da viagem, o tamanho daquele lugar.
- Filho, pegue sua identidade, você vai precisar.
Os dois compraram as passagens, o ônibus ia demorar um pouco. Então ela resolve tirar a dúvida.
- Qual o nome da cidade?
- Arabutã.
- Só um minuto
E ela se afastou o que deu tempo de pensar na viagem que iria fazer, imaginava, obviamente, o mais fácil, ir para Caxambu e depois de carro para Arabutã com o marido da Marta.
- Mateus, essa cidade, bem, ela fica aonde?
- Não sei. Só sei o nome na verdade.
- O moço do guichê falou que não tem ônibus para essa cidade, mas disse algo sobre cidades próximas.
- Mas eu não sei.
Ela olhou para os olhos inocentes do adolescente de 15 anos que não sabia nada além do nome. Sua generosidade e pena fez mudar o sentido de sua viagem.
- Quando encontramos meu marido nós vamos ver onde fica Arabutã.
Um sorriso veio ao rosto dos dois e foram conversando, conversaram sobre tudo, menos da profundidade dos segredos de suas vidas. O que tinham que revelar e o que não foi falado.
Já no ônibus para Caxambu, ele só olhava a vista, não fazia mais nada.
- A sua identidade, tinha o nome do seu pai e da sua mãe, o que aconteceu com eles?
- Não sei, eu e minha irmã fomos deixados em um orfanato.
- Vocês foram adotados?
Arregalou os olhos e pensou muitas vezes antes de responder, não queria se entregar, se ela soubesse, estava morto, não por receber castigo dos pais, mas por demorar mais algum tempo até poder ver a irmã.
- Sim, eu fui, mas... Mas eles também desistiram de mim. - Ele não sabia mentir, não podia mentir e também não queria, mas quando se tratava do seu coração, a sua cabeça fazia o certo.
- Meu Deus! E sua irmã?
- Foi adotada e está em Arabutã.
- Tem um monte de coisas que não se encaixam nessa história. - Ele gelou, começou a tremer e tentou criar a melhor história de todas em sua cabeça enquanto ela ia perguntando.
- Primeiro você devia ter voltado ao orfanato, e ninguém ligou que você saiu, segundo, se sua irmã foi adotada...
Uma freada brusca do ônibus jogou os dois para frente e uma sirene forte parava ao lado deles.
Mateus queria naquele momento ajuda, mas se Marta descobrisse ela não iria hesitar em falar a verdade para a polícia, enquanto os múrmuros no ônibus cresciam cada vez mais, ele pensou em sua irmã e imaginou que estaria sozinha, com saudades de seu irmão mais velho, desesperada para sair da casa de duas pessoas que nem ao menos conheciam seus sonhos. Então teve um idéia.

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