Lembro-me muito bem deste dia, o dia da cerimônia da colação de grau, até porque não se passou muito tempo. Estava esperando a cerimônia começar, observando sua preparação e a chegada dos convidados, naquele instante nenhum sentimento era ressaltado, eu estava apenas ali, observando. Não estava triste, não estava feliz, estava tão normal que nem parecia um dos formandos, eufóricos, já morrendo pelo grande final do espetáculo.
Observo tudo e a todos, os que entram e os que saem e vejo também esse senhor entrando, seu andar calmo, meio tímido me passou a impressão de estar procurando algo, ou, nesse específico caso, alguém, porém tinha medo de se deixar ver, o mundo o olhava e o julgava, riam dele e depois o subestimava, e então achou uma garota, um formando, sua filha, que logo que o avistou abaixou a cabeça e saiu correndo de perto das amigas para falar com seu pai, antes que ele falasse com ela. Não entendi muito bem de primeira, achei que ela estava tão feliz com a presença do seu pai que foi correndo até ele, depois percebi em seu rosto a vergonha que sentia do seu ente, mas por quê? Por ele já ter uma idade avançada talvez, por ele fazer certos comentários perto de pessoas conhecidas? Tanto faz o motivo, o que importa é a vergonha que sentia.
Nesse momento lembrei-me do meu avô, tinha vergonha dele e muitas vezes por causa disso o tratava mal, era uma criança tola. Babaca, ingênua e tola. Só quando se vai é que você conhece o real motivo da existência, a existência que já não existe mais.
A garota, após acomodar o pai na cadeira (a cadeira perto da última fileira, longe dos lugares dos formandos), fala com o mesmo algumas palavras e vai ao encontro das amigas. Algumas, que não o conheciam, perguntam se aquele seria seu pai, apesar de responder normalmente termina logo o assunto entra em outro.
Ela não acreditava em Deus, motivo? Qual a razão de acreditar? A moda de não acreditar em Deus aos católicos e seus filhos, não levar a fé adiante como se fosse moda, acreditar em Deus é apenas um sapato velho, é apenas uma gíria que saiu do comum. Mais não é religião a questão, é vergonha, como dito antes, vergonha e hipocrisia.
E então minha mente começa a funcionar, os imagino dentro de casa conversando. Conversando nesse caso é apenas trocar algumas palavras, afinal, qual o tempo que ela tem para ele?
-Você vai sair?
-Aham.
-Aonde?
Se perguntasse com quem ela conversava, ela não saberia responder rapidamente. Estava com pressa, se arrumando.
-No shopping com uns amigos.
-Acho que vou com você, tenho que fazer umas coisas no shopping.
-Você vai?... Mas,... Aí! Que saco... Não precisa me acompanhar a todos os lugares e além do mais estou com pressa, não posso te esperar.
De onde vinha aquela sua raiva? Sendo grosso para não receber uma aprovação ruim dos amigos...
- Já estou pronto - Seus olhos a acompanhavam fazendo suas coisas.
Sua mente o reprimiu, sentiu um pequeno aperto no coração.
-Estou saindo.
-Me ligue quando chegar.
Decidiu ficar, não queria que ela ficasse irritada com ele. Não queria ser ignorado.
-Tchau.
O barulho da porta fez seu coração doer mais.
E imaginava isso, olhando tudo como se estivesse lá, a vida passando e eu parado até que imaginei o último momento lúcido de meu avô, minha preocupação e seu sorriso, caído no meio da cozinha. Queria poder chegar a ela e dizer:
“Minha cara, sei que não vai gostar que eu vá chegando assim, falando isso para você, mas o que tive para mim, minha dor e sofrimento, angústia e remorso, não quero para mais ninguém, nem mesmo para aqueles que me odeiam e não me conhecem, trate bem seu pai pelo bem dele e no final de tudo, pelo seu bem."
Porém Deus não estava ali, não estava ali porque ela não acreditava que ele estivesse, apesar de para os católicos ele estar sempre ao lado das pessoas, até com quem nem acredita em sua existência, não era esse o motivo dele não estar ali. Ela não acreditava na existência de uma fé e por isso não adiantaria falar para ela que Deus estava com ela.
Seu pai, a dor no coração, a pontada no coração e o infarto, uma coisa seguida da outra e por fim, a ligação de sua mãe, viúva.
Seus amigos a acompanharam até em casa onde sua mãe estava chorando. Mesmo separados, tinham uma relação e o laço dessa relação, naquele momento, começou a chorar.
Chorava agora por ele, e vinha a angustia, a vergonha e todos os sentimentos ruins.
E vendo seu pai, uma última vez, repousou uma mão sobre a outra e soltou baixo um pequeno grito de rebeldia que estava aprendendo a conter.
-Que Deus leve meu pai.
Voltei a mim, estavam me chamando para sentar, dei uma última olhada para o pai dela e logo depois para ela e desejei comigo mesmo que ela aprendesse a lição antes que fosse tarde.
Antes que conhecesse a verdadeira vergonha.
Capítulo Anterior:
Introdução
Próximo Capítulo:
E o que acontece com o futuro?
----------------------------------------------------------
Olá, tenho que fazer algumas observações:
1-Mudei o título porque o outro era meio ruim.
2-Apesar de ter algumas coerências com a realidade, não sou realmente Eu contando e sim um personagem, talvez baseado em mim, talvez não.
3-Sobre o blog: Minha irmã está aprendendo photoshop e pedi para ela fazer uma coisa legal aqui para o blog... Então em um dia qualquer que vocês entrarem aqui vai ter uma surpresa....
Obrigado pelo Tempo....
Observo tudo e a todos, os que entram e os que saem e vejo também esse senhor entrando, seu andar calmo, meio tímido me passou a impressão de estar procurando algo, ou, nesse específico caso, alguém, porém tinha medo de se deixar ver, o mundo o olhava e o julgava, riam dele e depois o subestimava, e então achou uma garota, um formando, sua filha, que logo que o avistou abaixou a cabeça e saiu correndo de perto das amigas para falar com seu pai, antes que ele falasse com ela. Não entendi muito bem de primeira, achei que ela estava tão feliz com a presença do seu pai que foi correndo até ele, depois percebi em seu rosto a vergonha que sentia do seu ente, mas por quê? Por ele já ter uma idade avançada talvez, por ele fazer certos comentários perto de pessoas conhecidas? Tanto faz o motivo, o que importa é a vergonha que sentia.
Nesse momento lembrei-me do meu avô, tinha vergonha dele e muitas vezes por causa disso o tratava mal, era uma criança tola. Babaca, ingênua e tola. Só quando se vai é que você conhece o real motivo da existência, a existência que já não existe mais.
A garota, após acomodar o pai na cadeira (a cadeira perto da última fileira, longe dos lugares dos formandos), fala com o mesmo algumas palavras e vai ao encontro das amigas. Algumas, que não o conheciam, perguntam se aquele seria seu pai, apesar de responder normalmente termina logo o assunto entra em outro.
Ela não acreditava em Deus, motivo? Qual a razão de acreditar? A moda de não acreditar em Deus aos católicos e seus filhos, não levar a fé adiante como se fosse moda, acreditar em Deus é apenas um sapato velho, é apenas uma gíria que saiu do comum. Mais não é religião a questão, é vergonha, como dito antes, vergonha e hipocrisia.
E então minha mente começa a funcionar, os imagino dentro de casa conversando. Conversando nesse caso é apenas trocar algumas palavras, afinal, qual o tempo que ela tem para ele?
-Você vai sair?
-Aham.
-Aonde?
Se perguntasse com quem ela conversava, ela não saberia responder rapidamente. Estava com pressa, se arrumando.
-No shopping com uns amigos.
-Acho que vou com você, tenho que fazer umas coisas no shopping.
-Você vai?... Mas,... Aí! Que saco... Não precisa me acompanhar a todos os lugares e além do mais estou com pressa, não posso te esperar.
De onde vinha aquela sua raiva? Sendo grosso para não receber uma aprovação ruim dos amigos...
- Já estou pronto - Seus olhos a acompanhavam fazendo suas coisas.
Sua mente o reprimiu, sentiu um pequeno aperto no coração.
-Estou saindo.
-Me ligue quando chegar.
Decidiu ficar, não queria que ela ficasse irritada com ele. Não queria ser ignorado.
-Tchau.
O barulho da porta fez seu coração doer mais.
E imaginava isso, olhando tudo como se estivesse lá, a vida passando e eu parado até que imaginei o último momento lúcido de meu avô, minha preocupação e seu sorriso, caído no meio da cozinha. Queria poder chegar a ela e dizer:
“Minha cara, sei que não vai gostar que eu vá chegando assim, falando isso para você, mas o que tive para mim, minha dor e sofrimento, angústia e remorso, não quero para mais ninguém, nem mesmo para aqueles que me odeiam e não me conhecem, trate bem seu pai pelo bem dele e no final de tudo, pelo seu bem."
Porém Deus não estava ali, não estava ali porque ela não acreditava que ele estivesse, apesar de para os católicos ele estar sempre ao lado das pessoas, até com quem nem acredita em sua existência, não era esse o motivo dele não estar ali. Ela não acreditava na existência de uma fé e por isso não adiantaria falar para ela que Deus estava com ela.
Seu pai, a dor no coração, a pontada no coração e o infarto, uma coisa seguida da outra e por fim, a ligação de sua mãe, viúva.
Seus amigos a acompanharam até em casa onde sua mãe estava chorando. Mesmo separados, tinham uma relação e o laço dessa relação, naquele momento, começou a chorar.
Chorava agora por ele, e vinha a angustia, a vergonha e todos os sentimentos ruins.
E vendo seu pai, uma última vez, repousou uma mão sobre a outra e soltou baixo um pequeno grito de rebeldia que estava aprendendo a conter.
-Que Deus leve meu pai.
Voltei a mim, estavam me chamando para sentar, dei uma última olhada para o pai dela e logo depois para ela e desejei comigo mesmo que ela aprendesse a lição antes que fosse tarde.
Antes que conhecesse a verdadeira vergonha.
Capítulo Anterior:
Introdução
Próximo Capítulo:
E o que acontece com o futuro?
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Olá, tenho que fazer algumas observações:
1-Mudei o título porque o outro era meio ruim.
2-Apesar de ter algumas coerências com a realidade, não sou realmente Eu contando e sim um personagem, talvez baseado em mim, talvez não.
3-Sobre o blog: Minha irmã está aprendendo photoshop e pedi para ela fazer uma coisa legal aqui para o blog... Então em um dia qualquer que vocês entrarem aqui vai ter uma surpresa....
Obrigado pelo Tempo....
muito maneiro esse capitulo, me faz lembrar da cena do click mto bom mesmo
ResponderExcluirGostei muito. Realmente, lendo faz pensar que a história seja sobre você, envolveu-me bastante. Estou no aguardo pelos próximos capítulos ^^
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