quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Pós-Modernidade e Vida

Comecei a escrever este texto por conta de algumas coisas que eu estava lendo. A ideia veio principalmente de um sociólogo, Zygmunt Bauman, que escreveu livros sobre a liquidez das relações sociais e a sociedade pós-moderna. Infelizmente ainda não li nenhum livro dele, mas pretendo mudar isso logo. A outra inspiração foi de um texto da faculdade do meu irmão (que faz geografia), do livro "Sociologia e Sociedade Pós-industrial" do Paulo Sérgio do Carmo, do qual só li um capítulo, mas após ter lido esse capítulo pretendo comprar o livro.
Escrevi esse texto hoje, a algumas horas atrás na verdade, e gostei muito dele, principalmente pela fluidez das ideias e da facilidade que tive para escrevê-lo, além das citações que fiz (algo raro) e que vieram na minha cabeça ao acaso, especialmente a última. Após o texto eu direi de quem foi cada citação.
Espero que gostem.

Líquido (Ricardo José)

" Nomes me vinham a cabeça enquanto olhava a correnteza do rio. Nomes que traziam à lembrança pessoas, momentos, sentimentos, tudo ali, flutuando sem vida, inerte a água de minhas retinas um grito sufocava minha voz.

Foram momentos tão duradouros em sua existência, mas efêmeros na minha vida. Tudo passou tão rápido que muitos foram esquecidos nos rios que cortam meu coração. Muitos, porém, desembocaram no oceano de meus pensamentos, e até hoje são plenamente navegáveis.

Porém, "tudo o que é sólido se desmancha no ar". Na verdade não sei mais o conceito de sólido, esta frase, que me foi proferida em um momento de minha formação não me fazia sentido algum, porém, por seu incrível paradoxo, tornou-se bordão e até mesmo foi escrita em algum de meus caderno. Hoje, quando retomo à minha vida e analiso-a, percebo o quão certa ela é, e, mesmo depois de tantos anos, ela consegue estar certa e servir para todos os moldes da existência humana.

É interessante quando percebemos as mudanças que o mundo sofreu, e como isso altera a nossa realidade. Todas as coisas se tornaram efêmeras, relativas e flexíveis numa era dada por uma constante incerteza. Incerteza provinda de tanta certeza na ciência, de tanta convicção no saber.

Foram tantas as modificações e foi tão profundo o desenvolvimento da sociedade, que retrogredimos a uma era de afastamento, de exclusão. Platão, se vivesse no século XXI, dir-me-ia sobre o Mito do Shopping Center, de como nos alienamos numa realidade que inexiste.

O Shopping hoje configura-se como um dos maiores centros de lazer, ele reúne a essência da vida pública com a exclusão almejada pelas classes favorecidas. No shopping não há tempo, não há pobreza, há apenas sonhos e possibilidades. Sonhos esses que na verdade nunca serão alcançados por muitos de nós. Sonhos esses que só podem ser obtidos com um cartão de crédito, um salário pomposo ou um belo de um empréstimo em troca da própria alma. A indizível definição de shopping aliena, "nos shoppings os direitos políticos terminam na porta de entrada". Esse local é marcado pela exclusão, e por isso é almejado pelos excluídos.

Para finalizar, o shopping é a degradação do espaço público, pois representa tudo o que antes se fazia no espaço público, porém agora em um ambiente privado, capitalizado, onde só há direitos para dinheiros, pois é isso que somos. Não somos mais simples força de trabalho, nossa exploração não serve mais apenas para a produção de bens, mas também para a sua consumação. Somos apenas trocados para o café ou chumaços de dinheiro, podemos ser trocados, guardados e até mesmo rasgados sem pudor algum.

Mas o shopping é fruto de uma sociedade pós-moderna, pós-industrial, onde o saber configura num papel de suma importância. A produção do saber, a sua comercialização e a sua utilização em prol de uma sociedade capitalizada. A sociedade pós-moderna caracteriza-se não mais por uma classe dominante, mas por classes dominantes que mantém relações entre si. Não há mais a possibilidade de que a distribuição do poder enfraqueça essas classes, pelo contrário, a descentralização do poder em diferentes âmbitos consolidou-se na perpetualização do poder.

Os meios de comunicação tranfiguram-se no maior método de propagação do conhecimento. É através dele que a população tem a oportunidade de conhecer o mundo a sua volta, de entender de forma prática o que lemos na teoria e apreendemos na vida cotidiana. Entretanto, os meios de comunicação se vêem aprisionados pelos interesses de uma mídia burocrática, que sem pudor mostra-se parcial, omite, resume e deturpa acontecimentos, alienando a sociedade e mantendo-a sobre as rédeas não apenas de sua dominância, mas de outras classes dominantes.

"A educação sozinha não transforma a sociedade, sem ela tão pouco a sociedade muda", já dizia um dos meus maiores professores, que diretamente nunca me deu aula, mas que ensinou a todos que lecionaram para mim. A educação de qualidade não se resume na escola, mas abrange a todos os aspectos da vida e da sociedade, a educação é, com certeza, a base de toda a sociedade. Infelizmente a(s) classe(s) dominante(s) percebeu isso há muito tempo, antes mesmo da existência do capitalismo. Percebeu e utilizou essa educação para a manutenção de seu poder e para a perpetuação das condições sociais que lhe dariam sustento.

Portanto, nessa sociedade pós-moderna, tudo tornou-se temporário, todas as relações tornaram-se efêmeras, rápidas. Os anos passam mais rápido pois nos apegamos menos ao valor real do mundo. Os amores passam, as amizades passam, a certeza passa. Tudo se desmancha no ar, tudo se desvencilha, nada é sólido, tudo é líquido.

Por isso passo tanto tempo a olhar para os rios que cortam minha vida. A verdade é que no começo não haviam rios, mas viver trouxe consigo dilúvios. Um grande mestre uma vez disse "Seja como a água, meu amigo", e nós assim vivemos, somos amorfos, não temos forma alguma, passamos a vida contornando os problemas, mas não nos firmando a nada.

É nisto que a sociedade se transformou, em algo sem forma, líquido, assim são as instituições e assim são as relações sociais."


Autores das citações (por ordem de que aparecem):
Karl Marx; Paulo Sérgio do Carmo; Paulo Freire; Bruce Lee.

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