terça-feira, 31 de maio de 2011

Primeia prosa

Hoje postarei algo 'antigo', é do mês de Junho de 2010, fará um ano em alguns poucos dias... Foi a minha primeira prosa escrita realmente. Após começar a escrever poemas, foi com esse texto que dei início ao mundo da prosa. Espero que gostem!!
ps: nunca consegui um título para o texto.
ps 2: a história foi influenciada pelo filme "Reine sobre mim", com o Adam Sandler.

Abraços

'Sem título' (Ricardo José)

Já era de noite quando a chuva descarregou impiedosamente sobre ele. O vento soprava de forma ímpar, como se caçoasse de sua situação. As estrelas se escondiam de vergonha, a lua, por mais altiva que tentasse ser, chorava por trás das nuvens, dos prédios de concreto.

Apesar da chuva diluviana fora de época, aquele parecia um dia normal para grande parte da população, uma noite agradável para dormir, refletir e sentir. É triste pensar como somos ínfimos, insignificantes diante de nosso próprio destino, diante do rumo de nossas vidas. Chega a ser tragicamente hilário como a vida muda de rumo a cada palavra, olhar, gesto, suspiro. Parece terrivelmente solitário dizer que ninguém se interessa por nossas vidas. Da mesma forma que você curtia a sua no fatídico dia, eu observava o lamentar dos céus, questionando-me o porquê do sofrimento ...

Para quem andava na rua, ele parecia um homem normal, normal até demais, sem grande aparência, feitos ou anseios. Sua vida era resumida em seus olhos, podia-se ver o quão brilhantes eram enquanto olhavam para o amor de sua vida. Clichê, você me diria, sim, mas sua vida era normal, como num filme, onde já sabemos o final desde a primeira parte.

Ele a amava, do fundo do seu peito, com todas as veias, como uma mancha que se recusa a ser limpa. Poder-se-ia dizer, que sua vida girava sobre aquele amor. Porém, ele estava demasiado perto, o suficiente para não perceber sua inverossimilhança.

Quando saiu de casa neste dia, sentiu que algo aconteceria, porém, embevecido pelo mais simples veneno dos homens, julgou que algo grande aconteceria. Não reparou nos sinais a sua volta, infelizmente nunca o reparamos, não ligou para o esbravejar da tempestade, não ouviu sequer os seus medos mais profundos.

Após o seu cansativo dia, o que já era de praxe, ele saiu, esperando renovar o espírito ao lado dela. Comprou flores, quis surpreendê-la. Era uma noite comum, apenas mais uma página em um relacionamento, mas seu coração era como um turbilhão de desejos e realizações, de vontades, libertações. Ele era como todos nós, loucos e sábios, amando o impossível, desejando o inexistente, olhando o invisível, sentindo o incompreensível.

Ele tocou sua campainha, nem ao menos entrou. Ela fez o que devia, falou o que queria, não omitiu nada. Ainda o amava, mas não sabia se daria certo, eles mal se conheciam, haveria o quê, um mês? Três talvez, e ele já se tornara parte de sua vida, dejeto de seu tédio, excesso de indecisão. Ela não queria mais se aproximar dele, tinha medo de se machucar, de sofrer.

Ele ouviu tudo, calado, suas mãos ensanguentadas, segurando vivamente as flores. As palavras destroçaram seu coração, foram como um rasgo em seu peito, doía mais do que o suportável, o permitido. Ele virou e foi embora.

A chuva havia começado, dissolvendo seu orgulho, invadindo-lhe o peito, ameaçando, julgando, comentando, vulgarizando sua dor. Não importava mais, ele queria apenas se ver livre daquele peso, tirá-lo de dentro do coração, arrancá-lo de dentro de si, expulsar o sofrimento.

Andou o quanto pode, sem falar, sem chorar. A chuva derretia sua sanidade, o vento lhe afastava da realidade. Ele se cansou. Resolveu parar. Ajoelhou-se na rua, pôs as mãos sobre os pensamentos. Gritou, esbravejou como nunca antes, como se só houvesse aquilo dentro dele, e só havia, não era ódio, era o último resquício de seu amor, de sua humanidade, de sua vontade. Seus olhos gritavam junto, já estava morto quando a luz acertou seu rosto e o pôs contra o chão.

Seu celular vibrava em meio à poça de sangue, uma nova mensagem de voz, trêmula, sofrida, que pedia perdão, pedia a sua volta, que queria viver ao lado de um amor único.

Ele não era normal, ninguém que ama o é, nenhum de nós está livre dessa dor, vivemos todos os dias por ela.

Essa história pode não ter acontecido, mas é verdadeira em diferentes níveis, seja você quem for, qual que seja o seu amor.

Nosso futuro é reescrito a cada momento, a cada ação, sentimento. Só resta a nós decidir, se nos entregaremos ou continuaremos a cada empecilho que passarmos. Ouçamos o coração, pois ele é o único que age por vontade própria, sem ouvir mais ninguém.

4 comentários:

  1. Engraçado, relendo agora o texto eu já não gosto mais tanto assim dele. Achei corrido e algumas partes meio sem-sal... Pelo menos acho que melhorei

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  2. esse foi o que vc me mostrou na sua casa ?

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  3. Acho que você já tinha me mostrado esse, mas como já não me lembrava mais, não fez diferença.
    Muuuuito bom, sério mesmo. Você geralmente consegue ir fundo nos sentimentos e me identifico sempre com seus textos = )
    Tu é fods

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