terça-feira, 17 de maio de 2011

Prosa

Ainda bem que eu havia escrito esse texto no final de semana, pois só fui me lembrar de que hoje era meu dia agora, hahaha.
Estava agora voltando para casa de ônibus, e eis que eu vejo ali na Rua Pedro Américo um bar. Ele era pequeno, vazio, claramente sujo (porém a pintura branca de longe faz parecer limpo). Mas nada disso é interessante, o legal é o nome do bar: Bar dos Amigos!!!!
hahaha
Sério, vou tentar tirar passar por lá algum dia e tirar uma foto para publicar.
Agora o meu texto, abraços e uma boa semana.

Sem estrelas (Ricardo José)

Hoje é um dia sem estrelas.
Sento-me em baixo da janela e olho para o céu da pequena faixa de céu que posso ver de meu apartamento. Espero pela chuva que lavará minha solidão e semeará algo, qualquer coisa viva, qualquer coisa quente, qualquer coisa tua, em meu peito. A chuva não cai, porém o céu não abre, chega uma hora que cansamos de esperar.
Cansamos de esperar, mas no fundo nunca deixamos de fazê-lo. Fico no meu quarto, porém nele não tem janela, não tem a esperança de uma estrela aparecer, porém nele não tem luz, não se tem a chance de ver a solidão, porém nele não tem - não sei - vida, não se tem motivo de sorrir.
Quantas vezes já respirei sem sentir o ar, o não-perfume da ausência, a chuva, a madrugada. Por quantas vezes sofremos sem sentido, e magoamos, e rimos, nos embriagamos de sobriedade e ficamos lúcidos de tão bêbados. Tudo tem um sentido, mesmo quando não o queremos, e tudo que se quer, em algum momento passa a não ter sentido.
A noite torna-se carregada de palavras, estranhas palavras que cortam o ar e ferem meu corpo num movimento inaudível. São palavras que não são ditas, que guardo entre meus lençóis, por cima do meu travesseiro. Palavras que regurgito, que lacrimejo, que sangro, que penso, mas que nunca falo. Palavras que nunca morrem, porém nunca vivem.
Meus olhos se cansam de olhar o teto branco, de buscar uma perfeição. Meus olhos se perdem no mesmo ponto e se encontram no infinito que é lembrar e esquecer e pensar e viver, viver, morrer. A luz fraca não parece ser própria, é trêmula no ritmo do ventilador que me faz frio, é embaçada no lacrimejar dos olhos fixos, é nula na desistência do eu.
E chega um momento em que o tempo cansa de passar e nos perdemos no vazio dos pensamentos. Vê-se o vento soprar, um suspiro da eternidade, um lamento do efêmero. E esse vento nos rodeia, gela a alma, abraça-nos e perde-se, vai-se embora com nosso calor.
E, no entanto, volto a olhar pela janela, agora fechada pois já chove. As gotas escorrem por ela como se fosses minhas, lágrimas, náufragas, frias. O céu de guache perde sua cor, afoga-se em suas águas sem cor, morre em suas águas que lamentam a si mesmas, liberta-se de sua consciência.

E quem sabe...
Quem sabe amanhã - amanhã -
Não chova e possamos, não,
Eu possa ver as estrelas e...
Quem sabe...
No meio delas eu veja você.

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